SOBRE A TRÍPLICE ALIANÇA
O sal é certamente bom; caso porém se torne insípido, como restaurar-lhe o sabor?
S. Mateus
Trama matar o gato, o marido
fritar todos os bifes da sua carne polida.
Espera perder a paciência
em algum descaminho reanimar o amante querido
encardir com indecência o branco de sua vida.
Deseja o gozo da inconsciência
as contrações musculares
alimenta o desajuízo
a insegurança animal
fantasias mulheris.
Resiste, cala e se ofende.
Sonha com o motorista de táxi
Embriaga-se de rum vagabundo
acorda e se arrasta
rendendo aos dias o hábito do pijama
a cama despencada
o hálito do amor endividado.
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ECOLÓGICA
Sou uma mulher fraturada
quebrei o pé num bueiro destampado
na cidade do rio de janeiro.
Sou uma mulher fragmentada
deixei lençóis desarrumados
nos motéis da barra da tijuca.
Sou uma mulher libertada
escandalizo os moradores
da província das bananas.
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COMO NA VISÃO DO BÊBADO E UM GALO CANTAVA
Oceano Atlântico, mentira! Em Ipanema vestida não crescem lírios,
no delírio drogado não há Carmem Miranda.
Me lembro de você quando eu era gangorra e freqüentávamos sempre por uma única vez e nunca mais o jardim botânico e me lembro das manadas bem trajadas que protegiam (protegem?) a grande mãe dos vômitos da cidade e dos cães que rosnavam (rosnam?) autoridade à nossa futura prole porque nos amávamos e depois durante a nossa via crucis do leme ao leblon contávamos as gaiolas douradas e brincávamos então de adivinhar com que sonham eles mas eles não sonhavam compactuavam sonhos de marinas me lembro bem.
Há nos ares mais bares e despedidas ao planeta embriagado,
o companheiro oscila, entre o céu e o processo há muito mais
do que vãs ideologias.
E mesmo assim ousávamos caminhar desarmados e assistir ao balé erótico das lagostas na cinelândia e olhar os morros fechando o círculo da miséria até choramos uma vez imaginando o farol apagado e a cidade descolorida e projetamos um céu de cor plúmbea para exportar nossa paisagem venderíamos lamentos e enterraríamos os mortos no mar ficamos muito maus de repente não nos desconhecemos porque estávamos solidários.
A madrugada é sem tabacaria, sem caporal douradinho,
em frente ao edifício Marquês de Herval, na Avenida Rio Branco.
mas havia muitos shows de artistas desconhecidos os narizes de ferro se omitiam à maresia sugerimos fosse feita uma grande orgia em areias permissivas mas nos amamos timidamente na arrebentação e as gotículas eram carrossel de cores girando girando e que davam voltas no ar tomando formas de bolas cilindros trapézios e tudo foi deflorado na depuração do mar.
Santa Tereza, madres e padres e motorneiros din-don,
no Curvelo das balas toffee origina-se o tresloucado gesto,
tão transcendente como os leões de porcelana
na entrada da Chácara do Céu vigiando os paralelepípedos.
anoitecemos sem chances de suicídio num fiorentina abarrotado e as caras eram de revista em branco e preto e nos ofereceram o chiclete do abandono a preço brasileiro que não era o bronx nem picadilly nem circo nenhum ainda nos amamos e haverá tempo para pegar o bonde? a metrópole está em intensa polução noturna grupal tribal mas hoje tudo é memória e continuidade, me lembro bem e dos teus olhos verdejantes que eram de luz.
É janeiro, o grande Rio transborda em seca e calor
aguardando o carnaval para os deuses e as idéias nas vitrines entortam as
cabeças. As pessoas possuem um maravilhoso sorriso de acrílico.
me despedi no calçadão e ri porque copacabana não me enganou voltei bronzeada mas sem fantasia e quanto mais nua eu ficava mais eu também te esquecia – yellow river, your christ is green now – e da luz, luz, luz areia colada no corpo corrida pelo trânsito louco de tudo um pouco desse amor rabiscado em cartões postais que vão enchendo as fibras do computador caixinha de lembranças do peito de artista vou me esquecendo em romaria – que todas as cidades e todos os amores repetiriam essa mesma canção de ninar.
Próxima parada Bairro Boêmio?
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