POEMA DE ALICE
Alice não está na cidade.
Alice não quer mais brincar com as palavras sérias.
Assim me disse.
Antes de ir embora, deixou um poema navegando:
“Moço, faça o favor, meu tempo passou da hora, é tarde, é tarde, é tarde, é muito tarde.
Eu tenho que ir embora
Pra longe do quero-quero.
Olhe no seu relógio
Veja como estou atrasada.
A festa foi ontem
O baile acabou.
Os passos da última dança
Tropeçaram nos meus pés
No Ravel de um bolero.
Moço, esse mundo girou minha cabeça
Olha o que aconteceu na virada:
O sorriso fugiu com o gato
A lua comeu meu queijo
O sapato espantou meu cavalo
O rei degolou a rainha
E Quixote queimou meu cerrado”.
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CERTIFICADOS E DESILUSÕES DE ALICE
As ruas da cidade estão imundas Os gabinetes fedem E o palácio é uma anchova ridícula.
A mão esquerda sabe o que faz a direita.
O contraponto é a queda filmada
Da torre de TV.
Há muitas formigas e polícias.
Navios não aportam por aqui
E há muita gente implorando
Com suas rezas e Deus que se cuide
— e das criancinhas?
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ANARQUIA
Sou ilegal.
A rainha fala eu não ouço
A rainha manda eu não obedeço
A rainha exorbita eu sou insensível
À meia-noite a rainha dorme eu faço amor
Ao meio-dia a rainha reina eu durmo
A rainha acerta o relógio do poder
Mas eu não sou relojoeira
A rainha manda recados pelo porta-voz
Mas sou eu quem canta
A rainha esfrega as mãos nos pequenos lábios
Mas sou eu quem goza.
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DONA BARATINHA
– diga aí, espelho meu, existe mulher mais bela do que eu?
– claro que existe, sua burra, você não conhece a carlinha, a joaninha, a suzaninha?
– a suzaninha amiguinha da mafalda?
– não, sua anta, a do chicotinho…
– ah, sei, a do chicotinho queimado…
– não, sua estúpida, a do chicotinho e da mascarazinha..
– sei, a máscara do zorro…
– que zorro? viajou, sua burronilda, o zorro é gay…
– não era o joão ratão?
– não, esse caiu na panela do feijão, sua incompetente!
– então vou casar de novo:
“quem quer casar com a senhora baratinha,
que tem fita no cabelo
e dinheiro na caixinha?
é carinhosa e quem com ela se casar
terá doce no almoço
e muito sexo no jantar…”
– ai, meus sais, ô vida, ô azar… ela de novo escolheu casar em vez de comprar uma bicicleta.
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…
– existe mulher mais burra do que eu?
– não, claro que não, lógico que não, impossível! (agora comprou uma bicicleta mas onde é que ela devolve o marido?)
– o que faço agora?
– sei lá…
(Aposto que vai trocar a bike por outro marido! Vai gostar assim de marido na puta que pariu, dona baratinha…)
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