Poemas Dispersos IV

BALÉ DE CARNAVAL

A boiada na avenida

segue ziriguidum

Metralhadoras e fuzis

acompanham o ritmo

dum-dum

dum-dum, dum-dum.

Na tela da tevê no meio desse povo

eu atravesso a ponte

na ponta dos pés

feito bailarina.

Ela nem se move

a arcocêntrica.

Um bêbado passou

pelos meus pensamentos.

Vacilo de equilibrista

não sustentou o pas dieu.

Dei-lhe um sorriso

meio plissé

e mergulhei

lago no cisne.

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A FUGA É UMA DISCIPLINA

Nós não nos amamos

não lemos a carta do céu

não desalinhamos lençóis

e nem procuramos a convergência

dos nossos cismáticos corpos

Não houve têmpera para o amor

mesmo com todas as conveniências.

Tampouco atentamos para o despudor

tão candidamente necessário

para alarmar a morna paixão

que já antevia nos carinhos fortuitos

os nervos salientes do desejo.

Não nos indiciamos com palavras

que revelassem a voragem de nos macularmos.

e se pecamos foi apenas na promessa

de tantos mas tão poucos beijos.

E assim resistimo-nos.

E nada mais nos prometemos.

E este é o nosso pacto desumano.

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SEXO

Leio o aviso

que diz

safe sex

is hot sex.

Os meninos e meninas

que chegaram nestes novos tempos

foram barrados

no melhor da festa.

Olho pra eles com ternura

mas não vejo

minha própria juventude transviada.

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