BALÉ DE CARNAVAL
A boiada na avenida
segue ziriguidum
Metralhadoras e fuzis
acompanham o ritmo
dum-dum
dum-dum, dum-dum.
Na tela da tevê no meio desse povo
eu atravesso a ponte
na ponta dos pés
feito bailarina.
Ela nem se move
a arcocêntrica.
Um bêbado passou
pelos meus pensamentos.
Vacilo de equilibrista
não sustentou o pas dieu.
Dei-lhe um sorriso
meio plissé
e mergulhei
lago no cisne.
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A FUGA É UMA DISCIPLINA
Nós não nos amamos
não lemos a carta do céu
não desalinhamos lençóis
e nem procuramos a convergência
dos nossos cismáticos corpos
Não houve têmpera para o amor
mesmo com todas as conveniências.
Tampouco atentamos para o despudor
tão candidamente necessário
para alarmar a morna paixão
que já antevia nos carinhos fortuitos
os nervos salientes do desejo.
Não nos indiciamos com palavras
que revelassem a voragem de nos macularmos.
e se pecamos foi apenas na promessa
de tantos mas tão poucos beijos.
E assim resistimo-nos.
E nada mais nos prometemos.
E este é o nosso pacto desumano.
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SEXO
Leio o aviso
que diz
safe sex
is hot sex.
Os meninos e meninas
que chegaram nestes novos tempos
foram barrados
no melhor da festa.
Olho pra eles com ternura
mas não vejo
minha própria juventude transviada.
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